Texto de Gerson Colombo sobre "A Mão de Celina"

Ilustração da capa de "A Mão de Celina", obra de Rafael T. Pimentel

Há mais mistérios no céu e na terra, Horácio, do que sonha a nossa pobre filosofia...”. Esta frase do príncipe filósofo dinamarquês Hamlet, logo após encontrar-se com o espectro de seu pai, na cena V, do ato I, da grande tragédia de William Shakespeare, é, em última palavra, uma demonstração da inquietude que assaltava o grande dramaturgo inglês. 

No entanto, esta é uma inquietude compartilhada por todos os homens. A questão crucial imposta a todos os seres pensantes: o que há depois desta vida? Seria a morte o termo de tudo? Eis, pois, o enigma do próprio sentido da vida. Mas, se o atormentado príncipe tem como companhia o espírito do rei, seu pai, a desvendar-lhe os segredos de após a morte, “... terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou...”, o que nos resta? A não ser questionar essa intrigante relação que parece existir entre os homens e as almas daqueles que embarcaram na mais misteriosa viagem humana: a morte. Ou, como querem os materialistas, estamos condenados a desaparecer no nada após essa existência simplesmente orgânica, quando o princípio vital cessar de atuar no organismo físico? Os espiritualistas dizem que não. Para que tudo se explique, ou justifique, é preciso que haja uma alma imortal aí. Não podemos ser simplesmente máquinas formadas por átomos de carbono e células orgânicas. Afinal, por que pensamos? Como pensamos? O que é a mente humana? Eis um estudo interessante da Filosofia: a relação entre a mente consciente e o corpo físico. René Descartes no seu Discurso do Método plasmou o axioma: “Penso, logo existo.”, e completou: “... compreendi, assim, que eu era uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas em pensar, e que, para ser, não tem necessidade de nenhum lugar nem depende de coisa material alguma..., isto é, a alma pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo...”. A metafísica nos convida a conjecturar, então, que, após a extinção da matéria corporal, esta inteligência, essa alma pela qual somos o que somos, há de permanecer ativa em outro plano dimensional da existência. Mas, e os sentimentos? Afeições, ódios, afinidades, prolongam-se depois desta vida? Poderá o Amor estender-se para além da barreira física da morte? 


Eis aí o mote deste novo livro que Jeremias Soares traz à luz do mundo. Numa história intrigante, um jovem, ainda apaixonado por sua namorada morta, vê em tudo que o cerca lembranças de sua amada, o que o leva a uma angústia que vai culminar num estado de depressão profunda e suicida. Até que passa a sentir, frequentemente, a presença de sua querida Celina. Então, Jeremias Soares, à moda desta ficção instigante, começa a responder às questões que propusemos acima. E, sobretudo, mostra-nos que é possível que haja um intercâmbio entre estes dois planos da existência humana. Faço votos que o público leitor encontre prazer em sua leitura e que, instigado por ela, desperte em si a arte de questionar-se sobre sua própria essência e sobre o sentido da vida.


Gerson Colombo



Colombo é autor dos livros Solilóquio e Outras Histórias Curtas, Uma Candeia Sobre o Alqueire e A Empreitada. É articulista e cronista colaborador em vários órgãos de imprensa. É palestrante em temas da Doutrina Espírita, a qual se dedica, trabalhando e estudando, há mais de 30 anos. É graduado em Direito com extensão em Filosofia e membro da Associação Canoense de Escritores.

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